Sobre times pequenos e stack de talentos
Por que times pequenos fazem coisas grandes, mas times grandes não conseguem fazer coisas pequenas?
De uns tempos pra cá tenho ficado cada vez mais fascinado por times pequenos e suas histórias construindo produtos grandiosos. Desde que conheci o movimento dos micro-SaaS e a descoberta de heróis como Pieter Levels e Danny Postmaa tenho batido muito nessa tecla. Esse assunto foi tão recorrente que até gravamos um episódio do Pato de Borracha falando sobre isso.
Resolvi escrever sobre o assunto depois de ler uma entrevista do Peter Yang com Scott Belsky (dois Substacks muito bons, inclusive) falando sobre o “colapso do stack de talentos”.
O “stack de talentos” pode ser entendido como o conjunto de habilidades que uma pessoa ou time tem. Belsky chama esse “colapso do stack de talentos” o efeito de uma pessoa possuir várias habilidades necessárias para realizar múltiplas funções dentro de uma organização. É quando o líder de produto é bom em copy, ou o designer sabe programar ou o engenheiro entende de growth. Ou seja, uma pessoa tem mais de um talento necessário para criar produtos e pode assumir múltiplas responsabilidades.
Times pequenos
Times pequenos tem uma vantagem enorme em relação a times grandes. Essa vantagem vem dos ciclos de feedback mais acelerados e menos falhas na comunicação.
Coisas mágicas acontecem quando você tem um time pequeno com o stack de talentos certo para produto. Essa magia é um produto que simplesmente funciona de ponta a ponta. Todo mundo que já trabalhou em uma startup early stage entende o que eu quero dizer. É a magia dos “velhos tempos”, quando as decisões eram tomadas em um estalar de dados e os deploys não paravam de acontecer.
Em contraste, conforme as empresas crescem, a tendência é a especialização das pessoas com o crescimento dos times. Essa fragmentação faz com que quem escreve o copy esteja afastado de quem faz a pesquisa, quem escreve o código não tenha ideia do processo de design, e assim por diante. Além disso, são necessárias pessoas extras para coordenar o restante do time agora que a comunicação é muito mais complexa. O resultado são produtos que começam simples e se tornam complexos com o tempo.
Ter um time de poucas pessoas generalistas é superpoder pouco falado de qualquer startup. É assim que se torna possível derrotar os incubentes. É assim em todas as histórias de Davi e Golias da era da tecnologia.
Seguem alguns exemplos de times pequenos que fizeram produtos grandiosos:
Instagram tinha 13 funcionários quando foram adquiridos pelo Facebook por US$1 bilhão. Eles tinham 30 milhões de usuários.
Mojang (a empresa que criou Minecraft) tinha 37 funcionários quando foram adquiridos pela Microsoft por US$2.5 bilhões. Na época, a Mojang já faturava US$290 milhões com lucros de mais de US$100 milhões.
WhatsApp tinha 55 funcionários quando foram adquiridos pelo Facebook por US$19 bilhões.
Craigslist faz cerca de US$1 bi por ano com cerca de 50 funcionários.
Vale a pena tentar?
O ciclo ecônomico atual com dinheiro mais escasso a incansável busca pelo Santo Graal do Product Led Growth torna essa discussão mais relevante do que nunca. As companhias precisam resolver o dilema de ter times mais enxutos que construam softwares melhores.
Em um mundo engolido pelo software, a competição está cada vez mais acirrada e criar produtos vencedores passa por entregar uma experiência de usuário superior. Times fragmentados pela super especialização tem mais dificuldade em criar essas experiências, o que pode ser explicado pela Lei de Conway.
Aqui na 37signals vejo diariamente a solução desse dilema. Nossos times de produto tem no geral duas pessoas, não mais do que três. E sabe o que acontece quando achamos que algum projeto não pode ser feito por um time de duas pessoas? Mudamos o projeto! Reduzimos ou repensamos.
Nossa forma de pensar e construir produtos permitiu que o Basecamp tivesse duas décadas de lucratividade e uma base com centenas de milhares de clientes. Tudo isso em uma indústria hiper competitiva e com um time de 20x menor que os concorrentes.
Por isso, lembre-se: Quando falamos de times, pequeno não é menos. É mais. Mais rápido. Mais coesão. Mais qualidade.